O Papa é argentino, mas Deus é brasileiro!
Abuso de autoridade, carteiras, furar filas, exibir
hierarquia e a célebre frase – “Você sabe com quem está falando?!”, são
atitudes, gestos mal vistos e condenados por toda a sociedade, mormente num
país que se diz democrático, onde deve prevalecer o Estado de Direito, onde
aquela máxima constitucional deve ser a tônica – “todos são iguais perante a
lei”. O problema é que alguns são mais iguais! Sintomas de uma sociedade
capenga, doente, impregnada de desvios de condutas impertinentes, inoportunas e
acima de tudo condenáveis, execráveis. Atitudes próprias de regimes fechados,
sociedades provincianas, arcaicas, dominadas por um espírito de poder
inexistente e exacerbado.
Dois episódios recentes no país trazem à luz essa discussão
que se pensava estar sepultada, mas o ranço imperialista, o desejo de
mostrar-se superior, acima dos demais, mostrou que pessoas que deviam servir de
exemplos de conduta, exemplos de como se proceder publicamente, jogou na lama a
imagem de toda uma categoria de servidores públicos, afinal, o juiz, o
magistrado é, como qualquer outro, um servidor público, alguém que, por meio de
um concurso público, ascendeu-se a uma posição de destaque, de realce, mas isso
não lhe deu o poder, o direito de tripudiar sobre os humildes e exercer seu
múnus público com exagero e abuso.
Tivemos o caso do juiz João Carlos de Souza Correia, do Rio
de Janeiro, que, parado numa bliz policial, dirigia um veículo sem documentação
e ele próprio também não portava documentos de identificação. Advertido por uma
agente de trânsito, que cumpria seu mister, sentiu seus brios serem ofendidos
e, deu voz de prisão à pessoa que, da mesma forma que ele, é servidora pública
e cumpria seu dever. Este juiz processou a servidora que foi condenada a
pagar-lhe uma multa de R$ 5 mil. O caso continua nos tribunais do Rio de Janeiro.
Agora, mais um caso de abuso de poder e autoridade, quando
outro juiz, Marcelo Baldochi, de uma vilazinha do interior maranhense, chegou
atrasado para o embarque, no momento em que a aeronave já fechada, se preparava
para a decolagem. Procedimento técnico de segurança e rotina de qualquer
aeroporto. Os funcionários jamais poderiam suspender o taxiamento, mandar abrir
a porta do avião para que este “deus” brasileiro pudesse embarcar. Irritado, o
juiz mandou prender três funcionários da companhia aérea.
Num país onde violar, desrespeitar a lei é algo corriqueiro,
onde dar carteiradas nas portas de boates, bares, furarem filas nos mais
variados lugares, virou uma rotina. O que surpreende que sendo dois juízes, dos
magistrados que deviam sob todos os aspectos serem exemplos de caráter, de
retidão pessoal e funcional, agem de forma a denegrir a imagem de uma das
categorias funcionais que a cidadania confia. Esses dois magistrados, já estão
sendo investigados e o CNJ precisa aplicar-lhes uma punição exemplar, afinal de
contas, abusaram, extrapolaram de suas funções num lugar e num momento
completamente inadequado, violando a lei e expondo humildes servidores públicos
à execração, à humilhação.
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