sábado, 22 de junho de 2013

A Revolução dos Vinte Centavos:

Por que os brasileiros estão irritados?

Em todos os grandes movimentos e lutas sociais, alguém acaba sendo sacrificado em prol da causa. A "Revolução dos Vinte Centavos" já tem seu herói - MARCOS DELAFRATE, morto covardemente.

Esta é a pergunta estampada no mais prestigioso jornal dos Estados Unidos e do  mundo, o THE NEW YORK TIMES, em sua primeira página neste sábado (22/6/13). Esta é a mesma indagação feita nestas últimas duas semanas em jornais da Europa, Ásia e América Latina. E em Brasília? Nem mesmo no coração do país, no centro nervoso político e administrativo, ninguém ousa descrever, encontrar o motivo ou a motivação que fez milhões e milhões de brasileiros, da noite para o dia tomarem as ruas das grandes cidades, das capitais, das cidades interioranas e até nos grotões, nas vilas distantes, todos em uníssono gritando palavras de ordem e fazendo críticas contra os governantes, críticas estas generalizadas e atingindo todos os ocupantes de cargos públicos, quer no executivo como no legislativo. A presidente Dilma Rousseff foi o alvo principal desses  ataques que não pouparam os governadores dos estados, prefeitos das capitais e grandes cidades. Mas até mesmo o prefeito de uma currutela no interior cearense não foi poupado. Os partidos políticos de uma maneira geral também foram atacados e impedidos de participar das marchas e das manifestações nas ruas. O PT foi sem dúvida o alvo principal, sem contar entidades sindicais como a CUT, sempre aliada do PT e o PSTU.

Nem mesmo nos duros tempos do regime militar (1964-1985) se viu tamanhas manifestações pelo país. Sem um comando único, sem uma liderança destacada ou um centro irradiador de ordens, o movimento explodiu em São Paulo, inicialmente motivado pelo reajuste nas tarifas dos transportes públicos – ônibus, trens e metrô. Tarifas estas elevadas no patamar de R$ 0,20 (Vinte Centavos). Sim! Apenas R$ 0,20 serviu como estopim que levou milhares e milhares de pessoas para a Avenida Paulista, sempre no entardecer, causando um enorme engarrafamento no já caótico trânsito da capital paulista. Daí, em questão de horas, o movimento explodiu nas mesmas proporções por todo território nacional. E tudo isso ocorre num momento crucial que o país vive a Copa das Confederações, campeonato promovido pela FIFA e que  também passou a ser alvos do gigantescos protestos em face dos elevados custos das construções e reformas dos estádios pelo Brasil.

O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, já no meio da segunda semana de protestos em entrevista não digeria o evento e dizia que o governo não estava entendendo as razões, os motivos de tamanha reclamação. Por sua vez, a presidente Dilma Rousseff se enclausurou no palácio, cercada e protegida pelo mesmo Exército que no passado ela combatia. Receosa, amedrontada, correu para São Paulo onde, junto com o acovardado e acuado prefeito paulistano Fernando Haddad, se reuniram com Lula num hotel da capital. Estava presente o publicitário João Santana, marqueteiro ligado à Lula e que obviamente veio avaliar o tamanho do desastre político e as consequências nas eleições de 2014. Lula  e Dilma praticamente obrigaram Haddad a baixar a tarifa do ônibus e este a contragosto, ainda mais humilhado teve que correr e pedir socorro ao governador Alckmin, também sitiado e encurralado dentro do Palácio do Bandeirantes que teve um de seus portões derrubados pela turba enfurecida.

Durante o jogo entre Brasil e México, a FIFA tentou impedir qualquer ato de protesto, mas os milhares de torcedores apoiados pela Seleção brasileira, num gesto desafiador, cantaram o Hino Nacional em sua íntegra da I Parte já que a FIFA determina a execução dos  hinos nacionais por apenas 90 segundos. Os protestos continuaram a atormentar a vida dos cidadãos, do trânsito, vândalos agindo na escuridão e atacando lojas e o comércio em geral, provocando inestimáveis danos ao patrimônio público e privado e tirando o sono dos governantes. Na sexta-feira, acuada, a presidente reuniu-se com os ministros mais chegados (são muitos) e à noite falou à nação. Falou, falou e não disse nada. A pergunta que está sendo feita pela imprensa internacional, a pergunta que nem mesmo os políticos e os partidos políticos, todos tomados pela surpresa e não conseguem entender, avaliar é uma só — o povo cansou, encheu a paciência com o governo em todas as instâncias. E a resposta a esta questão qualquer criança responde. A corrupção hoje é a regra. Os partidos políticos estão longe e de costas pra o povo, para a sociedade. Muitos desses partidos são instrumentalizados para assaltar os cofres públicos, viraram verdadeiras quadrilhas. O brasileiro, o trabalhador que diariamente derrama seu suor, sangue e até lágrimas na construção deste país, ganha um salário miserável! No topo do poder, políticos através de manobras vis ganham  salários altíssimos. A corrupção não escolhe lugar. Está presente nos três poderes da República. A situação da saúde pública, da educação, dos transportes salta aos olhos. É vergonhosa, assim como o elevado custo da construção e reformas dos estádios para a FIFA. Os R$ 0,20 foi apenas a gota d’água que transbordou desse cálice de fel que o povo tem que virar goela abaixo todos os dias, assistindo os desmandos, a bandalheira e a corrupção corroendo o dinheiro do povo. Simples assim. Entornou o caldo, o povo se cansou disso tudo, deu um grito entalado na garganta há anos e a palavra é esta — basta! Só não entende isto quem não quiser!

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