Por que os brasileiros
estão irritados?
Em todos os grandes movimentos e lutas sociais, alguém acaba sendo sacrificado em prol da causa. A "Revolução dos Vinte Centavos" já tem seu herói - MARCOS DELAFRATE, morto covardemente.
Esta
é a pergunta estampada no mais prestigioso jornal dos Estados Unidos e do mundo, o THE NEW YORK TIMES, em sua primeira
página neste sábado (22/6/13). Esta é a mesma indagação feita nestas últimas
duas semanas em jornais da Europa, Ásia e América Latina. E em Brasília? Nem
mesmo no coração do país, no centro nervoso político e administrativo, ninguém
ousa descrever, encontrar o motivo ou a motivação que fez milhões e milhões de
brasileiros, da noite para o dia tomarem as ruas das grandes cidades, das
capitais, das cidades interioranas e até nos grotões, nas vilas distantes,
todos em uníssono gritando palavras de ordem e fazendo críticas contra os
governantes, críticas estas generalizadas e atingindo todos os ocupantes de
cargos públicos, quer no executivo como no legislativo. A presidente Dilma
Rousseff foi o alvo principal desses ataques
que não pouparam os governadores dos estados, prefeitos das capitais e grandes
cidades. Mas até mesmo o prefeito de uma currutela no interior cearense não foi
poupado. Os partidos políticos de uma maneira geral também foram atacados e
impedidos de participar das marchas e das manifestações nas ruas. O PT foi sem
dúvida o alvo principal, sem contar entidades sindicais como a CUT, sempre aliada
do PT e o PSTU.
Nem
mesmo nos duros tempos do regime militar (1964-1985) se viu tamanhas
manifestações pelo país. Sem um comando único, sem uma liderança destacada ou
um centro irradiador de ordens, o movimento explodiu em São Paulo, inicialmente
motivado pelo reajuste nas tarifas dos transportes públicos – ônibus, trens e metrô.
Tarifas estas elevadas no patamar de R$ 0,20 (Vinte Centavos). Sim! Apenas R$
0,20 serviu como estopim que levou milhares e milhares de pessoas para a Avenida
Paulista, sempre no entardecer, causando um enorme engarrafamento no já caótico
trânsito da capital paulista. Daí, em questão de horas, o movimento explodiu
nas mesmas proporções por todo território nacional. E tudo isso ocorre num
momento crucial que o país vive a Copa das Confederações, campeonato promovido
pela FIFA e que também passou a ser
alvos do gigantescos protestos em face dos elevados custos das construções e
reformas dos estádios pelo Brasil.
O
ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, já
no meio da segunda semana de protestos em entrevista não digeria o evento e
dizia que o governo não estava entendendo as razões, os motivos de tamanha
reclamação. Por sua vez, a presidente Dilma Rousseff se enclausurou no palácio,
cercada e protegida pelo mesmo Exército que no passado ela combatia. Receosa,
amedrontada, correu para São Paulo onde, junto com o acovardado e acuado
prefeito paulistano Fernando Haddad, se reuniram com Lula num hotel da capital.
Estava presente o publicitário João Santana, marqueteiro ligado à Lula e que obviamente
veio avaliar o tamanho do desastre político e as consequências nas eleições de
2014. Lula e Dilma praticamente
obrigaram Haddad a baixar a tarifa do ônibus e este a contragosto, ainda mais
humilhado teve que correr e pedir socorro ao governador Alckmin, também sitiado
e encurralado dentro do Palácio do Bandeirantes que teve um de seus portões
derrubados pela turba enfurecida.
Durante
o jogo entre Brasil e México, a FIFA tentou impedir qualquer ato de protesto, mas
os milhares de torcedores apoiados pela Seleção brasileira, num gesto
desafiador, cantaram o Hino Nacional em sua íntegra da I Parte já que a FIFA
determina a execução dos hinos nacionais
por apenas 90 segundos. Os protestos continuaram a atormentar a vida dos
cidadãos, do trânsito, vândalos agindo na escuridão e atacando lojas e o
comércio em geral, provocando inestimáveis danos ao patrimônio público e
privado e tirando o sono dos governantes. Na sexta-feira, acuada, a presidente
reuniu-se com os ministros mais chegados (são muitos) e à noite falou à nação.
Falou, falou e não disse nada. A pergunta que está sendo feita pela imprensa
internacional, a pergunta que nem mesmo os políticos e os partidos políticos,
todos tomados pela surpresa e não conseguem entender, avaliar é uma só — o povo
cansou, encheu a paciência com o governo em todas as instâncias. E a resposta a
esta questão qualquer criança responde. A corrupção hoje é a regra. Os partidos
políticos estão longe e de costas pra o povo, para a sociedade. Muitos desses
partidos são instrumentalizados para assaltar os cofres públicos, viraram
verdadeiras quadrilhas. O brasileiro, o trabalhador que diariamente derrama seu
suor, sangue e até lágrimas na construção deste país, ganha um salário
miserável! No topo do poder, políticos através de manobras vis ganham salários altíssimos. A corrupção não escolhe
lugar. Está presente nos três poderes da República. A situação da saúde
pública, da educação, dos transportes salta aos olhos. É vergonhosa, assim como
o elevado custo da construção e reformas dos estádios para a FIFA. Os R$ 0,20
foi apenas a gota d’água que transbordou desse cálice de fel que o povo tem que
virar goela abaixo todos os dias, assistindo os desmandos, a bandalheira e a
corrupção corroendo o dinheiro do povo. Simples assim. Entornou o caldo, o povo
se cansou disso tudo, deu um grito entalado na garganta há anos e a palavra é
esta — basta! Só não entende isto quem não quiser!
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