PSDB já não é o que foi e não sabe o que o será
O
PSDB vive uma crise existencial. Tornou-se o pior tipo de ético —
o tipo que não consegue enxergar a ética no espelho. Houve tempo em
que o partido se vangloriava até de sua divisão interna. Cada
arranca-rabo para a escolha de uma candidatura tucana era tratado
como um marco civilizatório na vida política nacional. Dizia-se que
uma disputa interna entre Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra
só trazia vantagens, pois nenhuma outra legenda podia levar à
vitrine contendores tão qualificados. Agora, o tucanato se esforça
para medir não a qualificação dos seus pássaros, mas a quantidade
de lama que cada um traz sobre a plumagem.
Até
ontem, o PSDB apresentava-se como campeão da moralidade. E se
atribuía o direito de denunciar os adversários como salteadores.
Apanhados com a asa na arca da Odebrecht, os tucanos protegem-se
alegando que caixa dois não é corrupção. Suprema ironia: na crise
do mensalão, o tucanato achou que poderia sangrar Lula e varrer para
baixo de sua hipocrisia a aliança do seu presidente Eduardo Azeredo,
com Marcos Valério. Na era do petrolão, o ninho acha natural ecoar
o lero-lero da verba “não-contabilizada” do tesoureiro petista
Delúbio Soares. Mandou a credibilidade para o beleléu.
Nas
pegadas da derrota apertada de Aécio Neves em 2014, o PSDB foi ao
Tribunal Superior Eleitoral. Acusou a coligação adversária de
prevalecer na base do abuso do poder político e, sobretudo,
econômico. Pedia, então, a cassação da chapa Dilma-Temer e a
posse da chapa Aécio-Aloysio Nunes, segunda colocada. O tempo
passou. Sobreveio o impeachment. Tucanos viraram ministros. E o PSDB
pede ao TSE que condene Dilma à inegibilidade, mas livre Temer da
guilhotina. Sustenta que o dinheiro sujo que bancou a continuidade da
madame não contaminou a reeleição do seu substituto
constitucional.
Sem
ética, sem credibilidade e sem nexo, o PSDB já não é o que foi —
ou imaginava ser. E ainda não sabe o que será. Deve doer em Aécio
Neves, Alckmin e Serra a idéia de encenar o papel de políticos que
fazem pose de limpinhos numa peça imunda. Meteram-se num enredo em
que o personagem principal é a Odebrecht e cujo epílogo é uma
candidatura presidencial do prefeito João Dória fazendo cara de
nojo e alardeando na televisão que é um empresário e não um
político.
O
PSDB antes imaculado, cheio de virtudes peregrinas, só gente de bem,
tornou-se um partido sem ética, sem nobreza de princípios. Aliou-se
ao pior partido politico do Brasil, o PMDB, segundo Ciro Gomes, um
“ajuntamento de bandidos”. O PSDB se perdeu no caminho da
corrupção, tomou gosto pelo mal feito e perdeu sua identidade.
Antes incorruptível, juntou-se a todo tipo de partido, tudo na ânsia
desenfreada de chegar ao poder.
(Sob
um texto de JOSIAS DE SOUZA, do site UOL de 02.4.17).
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