domingo, 15 de maio de 2016

O fim do PT - desmoralização!




Desde seus primeiros tempos como um grupo combativo de marxistas que desafiavam os governantes militares do Brasil, o Partido dos Trabalhadores cresceu para se tornar um dos movimentos de esquerda mais duradouros do mundo --uma locomotiva eleitoral que dominou a política do país por mais de uma década.
Mas o Senado do Brasil lhe aplicou um golpe paralisante na quinta-feira (12), ao votar pela suspensão da presidente Dilma Rousseff e descartar a organização política que governou o maior país da América Latina durante 13 anos, o mais longo reinado de um partido eleito democraticamente na história do Brasil.
"O Partido dos Trabalhadores era um partido de esperança, mas seus líderes se intoxicaram com o poder e agora aquela esperança se rompeu", disse Hélio Bicudo, 93, um dos primeiros membros do partido e ex-deputado que desertou em 2005.
Após uma década de crescente popularidade, as fortunas do PT foram abaladas por uma devastadora crise econômica e um colossal escândalo de corrupção que derrubou alguns de seus principais líderes.
Enquanto milhões de brasileiros voltavam à pobreza, o partido que havia chegado ao poder prometendo representar as massas e acabar com a impunidade estava participando do mesmo tipo de corrupção que há muito caracterizava as classes dominantes do país.
Embora Rousseff não tenha sido acusada de suborno --seu julgamento de impeachment se baseia em um esquema orçamentário destinado a ampliar suas perspectivas de reeleição--, escândalos de corrupção mancharam a reputação de seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder do Partido dos Trabalhadores, que a escolheu para sucedê-lo e pretendia se candidatar novamente em 2018.
Lula ainda não foi acusado de crime, mas promotores federais estão investigando seu papel em um esquema que envolveu a canalização de dinheiro da companhia nacional de petróleo para os cofres do PT.
Uma série de altos aliados de Lula, incluindo membros graduados do partido, foram presos ou estão sendo investigados por envolvimento no esquema, que distribuiu bilhões de dólares em propinas a figuras de todo o espectro político.
Mesmo em um país calejado pela corrupção política, a queda de um partido antes dedicado à transparência e ao governo limpo é um fim desanimador que aprofundou a falta de confiança do público na política brasileira.
Isto também ameaça reverter algumas das conquistas do partido, uma força política esmagadora que até seus críticos admitem que ajudou a diminuir a terrível pobreza e a disparidade econômica que há muito afligiam esse país de 200 milhões de habitantes.
"Que o Partido dos Trabalhadores tenha se sujado ao se envolver em toda essa corrupção é uma tragédia, talvez a principal tragédia no que está acontecendo hoje", disse o historiador José Murilo de Carvalho.
Marcada por cobiça, traição e a busca de um poder cada vez maior, a queda em desgraça do partido tem todos os elementos de uma tragédia shakespeariana.
Seu maior protagonista é Lula, 70, que trabalhou como engraxate quando menino, antes de conseguir emprego em uma fábrica de parafusos. De lá, chegou à Presidência e conduziu um boom econômico, deixando o cargo como um dos líderes mais populares do mundo.
A partir dos anos 1970, ele ajudou a transformar um grupo desordenado de sindicalistas, membros do clero católico liberal e estudantes idealistas em um formidável movimento político que se ergueu contra os líderes militares do país.
Formado em 1980, o Partido dos Trabalhadores dispensou o dogma marxista estrito e adotou um processo democrático para eleger seus líderes.
Lula disputou a Presidência com o slogan "Terra, trabalho e liberdade".
No final dos anos 1980, os candidatos do partido ganhavam eleições. Em 1986, Lula foi eleito ao Congresso e dois anos depois uma candidata do PT conquistou a Prefeitura de São Paulo, a maior cidade do país. Lula então fixou sua mira na Presidência.
Lula foi uma figura política improvável, cuja gramática imperfeita e retórica de esquerda assustavam a elite brasileira. Mas em 1988, depois de três candidaturas sem sucesso à Presidência, Lula mudou de estratégia. Trocou as camisetas por ternos sob medida e dispensou o discurso de mudança revolucionária, dizendo que honraria a dívida externa de US$ 250 milhões que na época emperrava a economia brasileira.
Seu novo slogan: "Lula, paz e amor".
Em 2002, ele aproveitou a ira popular sobre a desigualdade econômica e a corrupção rampante para vencer a Presidência com uma avalanche de votos. As medidas de austeridade que ele adotou e a demanda crescente por matérias-primas brasileiras ajudaram a endireitar a economia, mas ele rapidamente achou necessário fazer acordos com o Congresso brasileiro fragmentado para aprovar sua ambiciosa agenda legislativa.
Para antigos baluartes do partido como Idelber Avelar, o ponto de ruptura foi quando Lula começou a distribuir cargos e formar alianças com chefes de partidos de oposição que não compartilhavam os ideais do PT.
"Isso representava tudo contra o que o partido lutava", disse Avelar, um acadêmico que deixou o PT há mais de uma década e hoje vive nos EUA. "Havia várias opções, mas a escolha inicial foi a política de fazer acordos a portas fechadas."
O compromisso com aliados rentistas quase derrubou o governo de Lula em 2005, quando um esquema de compra de votos que pagava a deputados de oposição por sua lealdade foi denunciado pela mídia brasileira. Lula suportou o escândalo e foi reeleito em 2006, mas ficou substancialmente enfraquecido pela crise e foi obrigado a fazer ainda mais alianças para manter seu apoio no Congresso.
Aparentemente inabalada por sua proximidade com o escândalo, a direção do PT estava secretamente envolvida em um enorme esquema de propinas com executivos da Petrobras, a gigante de energia de propriedade estatal. O arranjo, que ficou conhecido como "Lava Jato", envolvia desviar bilhões de dólares da farta receita do petróleo para o Partido dos Trabalhadores e seus parceiros de coalizão no Congresso.
O escândalo, que continua se desenrolando, abalou o meio político do país, com dezenas de executivos empresariais e líderes partidários presos ou sob investigação.
Alguns dos mais próximos assessores de Lula estão entre os caídos, mas ele insistiu que não tinha conhecimento do arranjo. Seus índices de aprovação, antes invejáveis, sofreram um golpe substancial.
"Nossas maiores conquistas foram tirar 36 milhões de pessoas da pobreza e promover outros 40 milhões à classe média", disse Lula em um e-mail esta semana. "Continuamos sendo um partido que se importa com os pobres e a justiça social."
A menos que ele seja acusado de crime, muitos analistas políticos ainda esperam que Lula dispute a Presidência daqui a dois anos.
"Na política brasileira, você nunca pode jogar alguém embaixo do ônibus e pensar que não vai se recuperar", disse Alfred P. Montero, autor do livro "Brazil: Reversal of Fortune" e professor no Carleton College. "Eu observo esses sujeitos desde os anos 80, e eles sempre parecem voltar." (Texto de Andrew Jacobs, publicado no THE NEW YORK TIMES)
  

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