O ministro Joaquim Barbosa não é
nenhum super-herói!
O julgamento
da Ação Penal 470 (Mensalão) pelo Supremo Tribunal Federal, pela primeira vez
em sua história, chamou a atenção de todo o país, dada a gravidade do fato
delituoso julgado, como também dos réus envolvidos, pessoas que ocupavam os
mais elevados cargos na administração federal, parlamentares, banqueiros,
lobistas, enfim, os típicos figurões do colarinho branco. Depois de quase 7
anos entre milhares de papéis, audiências realizadas, quase mil testemunhas
ouvidas, o julgamento desta AP está entrando em sua fase final com resultados
surpreendentes cuja repercussão na sociedade brasileira é amplamente favorável
e, esta se identificou de pronto com a figura do relator do processo, o ministro
Joaquim Barbosa, que, coincidentemente esta semana se torna presidente desta
mais alta Corte de justiça do Brasil. Negro, nascido de família pobre, pai
pedreiro e mãe dona de casa, estudou com enormes dificuldades, galgando altos
postos na diplomacia brasileira e, por conta disso aprendeu várias línguas
estrangeiras, principalmente o alemão. A vida e a forma com que Joaquim Barbosa
se comportou durante esses três meses do julgamento, levou grande parte dos
brasileiros a aplaudir e apoiar seus gestos e decisões. Rusgas, embates e até
agressões verbais entre ele e o seu colega, o ministro Lewandowski, atraíram a
atenção da mídia e da opinião pública. Em muitas ocasiões, na verdade Joaquim
Barbosa exagerou na dose ao cortar, interpelar seu revisor publicamente. É
imperioso e legal que Barbosa admita, reconheça o voto de seus pares, gostando
ou não.
Ninguém esquece o verdadeiro
espetáculo que se transformou num bate-boca de baixo nível entre Barbosa e o
ministro Gilmar Mendes, quando este presidia o STF. Entre outras palavras de
nível duvidoso, chulo, Joaquim Barbosa acusou Mendes de “usar capangas em suas fazendas...”. Ficou muito feio o atrito entre os dois
ministros. Durante este julgamento do “Mensalão”, Joaquim Barbosa bateu boca em
altos brados também com Marco Aurélio Melo. Isso inquietou os demais ministros
tendo em vista que Barbosa assumirá a presidência e se espera muitos atritos entre ele e seus colegas num
ambiente conservador, elevado em que o respeito às diferenças de idéias seja a
tônica. Não se pode aceitar que ministros do
STF em julgamentos no pleno, possam agredir-se moral e verbalmente por
conta de seus votos. O respeito a cada um deve marcar as decisões de
todos. Esse destempero verbal e
descontrole emocional é que chamou a atenção da mídia e do povo sobre a figura
de Joaquim Barbosa. Da noite para o dia surgiram nas redes sociais inúmeras
manifestações de apreço, de apoio ao ministro nos votos pronunciados ao
enquadrar e condenar as figuras relevantes e de prestígio no governo Lula. Sua
coragem é motivo de preocupação de setores da sociedade que, inclusive teme por
sua segurança pessoal no futuro.
Ao abrir o Código Penal, em seu Artigo 121, temos: “ Matar alguém – Pena – reclusão, de 6 a
20 anos. (Homicídio simples)”. Seguindo, agora voltando para o Artigo 59, lembrando aqui como
insistentemente nos ensinou o ilustre prof. De Direito Penal, Dr. Celso Vital, no
UniSALESIANO, vamos encontrar neste artigo, a chamada DOSIMETRIA da pena. É
justamente aqui que o magistrado avalia, analisa e pesa o quantum ele vai aplicar conforme o crime praticado, as
circunstâncias em que ocorreu, a situação da vítima, os antecedentes do réu, a
culpabilidade, motivos do crime, etc. É nesta fase que o juiz na verdade
declara a pena a ser aplicada ao eventual réu. Agora, olhando para nossa
Constituição Federal, encontramos lá no Artigo
102, Inciso I, alínea “c”, entre outras, as atribuições dos ministros do
STF. Aqui entra a figura de Joaquim Barbosa. Durante 6 longos anos, ele, como
relator estudou detidamente os autos do processo, avaliou cada acusado, a
participação nos fatos narrados e atribuídos à cada um, para, ao final chegar agora ao plenário da corte e
apresentar seu voto, que não deveria nem poderia ser entendido como o
pressuposto da verdade única ou real. Os demais ministros bem como os advogados
dos réus poderiam e deveriam discordar. Neste ponto, Joaquim Barbosa se elevou
ao nível daqueles que se sentam ao lado de Zeus no Olimpo, não admitindo ser
contrariado. Aí bateu de frente com Lewandowski.
Então, Joaquim Barbosa, agora
idolatrado e adorado como herói por grande parte da mídia, da imprensa, já
sendo ovacionado por populares quando desce de seu pedestal e caminha entre os
pobres mortais, sendo até escolhido e indicado para futuramente ser candidato à
presidência da República, etc. Ungido com os super poderes dos heróis das
revistas em quadrinho e do cinema, Barbosa é tido e visto como a solução para
os nossos graves problemas. O povo brasileiro assim se comporta, mercê de
seguidos governantes corruptos, de ladrões do mais alto escol a roubarem o bem
público. Desde que Cabral aqui aportou, a corrupção tem sido a marca por
excelência das diversas administrações causando ao povo a desesperança e
desencanto com os agentes públicos e governantes eleitos. Entra governo, sai
governo, a roubalheira continua. Assim, quando surge uma figura como Joaquim Barbosa, o povo vê renascer a fé
num homem público, vê reerguer a figura de um herói, um semi-deus capaz de dar
jeito, resolver as constantes mazelas e por o país nos eixos. Mas tudo não
passa de um episódio efêmero que logo será esquecido. Joaquim Barbosa é um
simples mortal como outro qualquer, um simples servidor público que apenas deve
e está exercendo suas funções e atribuições para o qual fora indicado nos termos da Constituição. Não fez
e nem está fazendo mais que sua obrigação – julgar nos termos da lei, simples
assim. Heróis de verdade, são os quase 200 milhões de cidadãos deste país que
há séculos convivem com as mazelas, os erros, A corrupção, os baixos salários,
a péssima qualidade dos serviços públicos, os altos e pesados impostos...estes
sim são os heróis!
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