Previsto um novo encontro entre Dilma e Obama
O
governo norte-americano começa a preparar um possível encontro entre Dilma e
Obama.
Na
perspectiva de Washington, isso é bom porque o relacionamento bilateral vem
avançando positivamente.
Longe
dos holofotes e sem alarde, as duas diplomacias têm encaminhado pendências em
temas como comércio, investimento e tributação.
Em
silêncio, dissiparam o mal-estar característico dos últimos meses do governo
Lula e avançaram em novas áreas: a Casa Branca considerou a postura de Dilma
diante da sucessão presidencial venezuelana como "excelente" e não
apenas entende, como aprecia, o modo brasileiro de lidar com Cuba. Acha que
conversar reservadamente com o Brasil sobre África e Oriente Médio é útil, não
mera formalidade.
O
avanço mais palpável talvez seja na área de cooperação naval. Almirantes dos
Estados Unidos são, na capital americana, os defensores mais influentes da
ideia de um Brasil em ascensão.
Nada
disso significa que a relação esteja atravessando uma lua de mel. Há fricções
de baixa intensidade que não vão desaparecer e sérios problemas de percepção
mútua.
A
diplomacia americana é tão orgulhosa quanto a brasileira e frustra-se cada vez
que, em foros multilaterais ou grandes encontros Sul-Sul, Brasília dialoga ou
coopera com Washington em privado, mas a esbofeteia em público.
Idem
para o argumento da Esplanada segundo o qual a política monetária americana
seria causa de todo mal --proposição sem amparo nas análises econômicas mais
sérias.
Mas
o avanço é inegável, graças ao trabalho de bastidor das duas diplomacias.
O
próximo encontro poderá render excelentes frutos. Como Dilma tem a agonia de
quem precisa vencer uma corrida eleitoral, enquanto Obama tem a flexibilidade
do último mandato, as condições são boas para o Brasil pedir concessões e
levar.
Isso
importa porque Obama receberá, neste ano, boa parte dos líderes das chamadas
Aliança do Pacífico e da Parceria Transatlântica, as duas iniciativas
comerciais mais importantes dos últimos tempos. Juntas, elas pretendem
destravar o comércio internacional. Representam, no entanto, um duro golpe
contra os pilares da estratégia comercial brasileira, Mercosul e Organização
Mundial do Comércio.
Em
uma conjuntura na qual há muita coisa em jogo, é crucial que o governo
brasileiro monte uma visita presidencial possante.
Possante
de verdade.
Imagine
Dilma no Congresso dos EUA, onde há inédita boa vontade porque senadores e
deputados disputam investimentos brasileiros.
Imagine
uma campanha de marketing para promover a marca Brasil antes da viagem, método
simples e barato que nunca foi testado.
Imagine
uma presidente que encontra representantes dos mais de 2,5 milhões de
brasileiros que moram nos Estados Unidos, força que todo mundo ignora.
Imagine
o anúncio da política de conteúdo local do pré-sal em coletiva para a imprensa
internacional antes da reunião no Salão Oval.
O
progresso silencioso dos últimos dois anos criou as condições para avançar. Pé
no acelerador.
É inegável que observadores acreditados em Washington sabem muito bem separar Lula de Dilma. Enquanto o primeiro se move por um sentimentalismo estúpido, notadamente em relação a Havana, Dilma se pauta por uma agenda que seja interessante não só para o Brasil como para o Estados Unidos e para a América em geral. Dilma também é forte interlocutora junto aos BRIC's e Obama tem plena consciência disso.
Com Chavez morto, fatalmente Caracas terá que adotar nova postura em relação aos americanos e seus interesses. Nícolas Maduro não tem o carisma e muito menos o fanatismo doentio de seu padrinho politico. Tangido por fortes pressões internas, terá que fazer concessões à oposição não só no campo político como nas relações bilaterais. Nesse ponto, Dilma Rousseff poderá abrir caminhos para uma agenda e não se surpreenderá com Maduro sendo recebido na Casa Branca, os tempos são outros. (sobre um texto de Matias Spektor, de O Estado de São Paulo).
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