O imenso sofrimento do povo sírio
Há mais de um ano estamos assistindo impávidos, esse massacre, esse imenso sofrimento do povo sírio. Segundo as informações mais claras de organizações de ajuda humanitária, nesse espaço de um ano, mais de 7 mil cidadãos foram mortos pelas forças do governo liderado pelo tirano Bashar Al-Assad que descaradamente engana a ONU, a Liga Árabe com mentiras e informações falsas, proibindo que representantes estrangeiros, mesmo árabes possam ingressar no país para certificarem in loco o que de fato acontece. Atingida pelos ventos da liberdade soprados no mundo árabe com a eclosão de movimentos de libertação e protestos que tiveram inicio na Tunísia, a Síria, com um governo ditatorial do clã Assad desde 1962, reagiu com a costumeira violência aos movimentos civis que pediam mudanças políticas e sociais. Nem mesmo os fracos esforços das Nações Unidas consegue aliviar o peso da mão de ferro com que os militares vem tratando o povo desarmado. A Síria conta com o apoio da Rússia e China, que vendem essas mesmas armas para o governo de Damasco e como ambos possuem o direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, impedem uma ação mais eficaz dos países europeus e dos Estados Unidos, interessados até mesmo numa invasão militar para depor o governo como aconteceu na Líbia. Enquanto isso não ocorre, o povo, crianças, velhos, mulheres são os que mais sofrem.
A Síria de hoje foi criada como protetorado francês e obteve sua independência em abril de 1946, como uma república parlamentar. O pós-independência foi instável, e um grande número de golpes militares e tentativas de golpe sacudiram o país no período entre 1949-1970. A Síria esteve sob Estado de Sítio desde 1962, que efetivamente suspendeu a maioria das proteções constitucionais aos cidadãos. O país vem sendo governado pelo Partido Baath desde 1963, embora o poder atual esteja concentrado na presidência e um pequeno grupo de políticos e militares autoritários. O atual presidente da Síria é Bashar Al-Assad, filho de Hafez Al-Assad, que governou de 1970 até sua morte em 2000. Ou seja, o clã Assad domina a vida do povo sírio há 50 anos. A Síria tem uma grande participação regional, particularmente através do seu papel central no conflito árabe com Israel, que desde 1967 ocupou as Colinas do Golã e pelo envolvimento ativo nos assuntos libaneses e palestinos. O governo de Bashar Al-Assad exerce forte influência nos assuntos internos do Líbano e, segundo consta está até envolvido na morte do ex-primeiro-ministro Arare que procurava desvencilhar-se da forte intromissão síria em seu país. Assad é acusado de ajudar armar os grupos terroristas mulçumanos que lutam contra Israel e provoca grande instabilidade política e militar na região.
A população predominante é de mulçumanos sunitas, mas com uma significante população de alauitas, drusos e minorias cristãs. Desde a década de 1960, oficiais militares alauitas tem dominado o cenário político do país. Etnicamente, cerca de 90% da população é árabe, e o estado é governado pelo Partido Baath de acordo com princípios nacionalistas árabes dos quais aproximadamente 10% pertencem à minoria curda. Os sírios de uma maneira geral vivem de forma pacífica numa sociedade extremamente fechada e sob a égide dos medievais princípios do Alcorão. Consta que o Imperador brasileiro Pedro II tenha visitado o Líbano quase no final de seu reinado, simpatizando-se pela região e incentivando a vinda dos primeiros emigrantes árabes, notadamente libaneses e sírios, que no Brasil tradicionalmente são sempre confundidos e chamados de “turcos”. Esses primeiros emigrantes chegaram por volta de 1880 e buscaram as regiões Sul e Sudeste. Diferentemente dos europeus não se dedicaram às lavouras mas ao comércio, à incipiente indústria quando ganharam o apelido de “mascates”. Hoje, vivem no Brasil milhões de descendentes dos sírios, envolvidos na vida social brasileira e trabalhando, atuando em prol do engrandecimento do nosso país. Decorre daí, a imensa preocupação com que o povo brasileiro acompanha este calvário, este imenso sofrimento de um povo que está sendo em silêncio assassinado pelos órgãos repressores do governo. Apesar do Brasil ter uma relação política um tanto distante com a Síria, um comércio fraco, os laços de Amizade e a influência da cultura, da história milenar, da comida e da cooperação dos sírios é muito forte e sentida no seio do povo brasileiro.
As notícias que chegam da Síria são as mais dramáticas possíveis e graças à internet, pois o governo proíbe a entrada no país de jornalistas e mesmo de ajuda humanitária. Pouco se sabe oficialmente das informações, pois o governo camufla e distorce os dados. A cidade de Homz é onde se concentra o maior foco de oposição, mas está cercada e sofre intenso bombardeio das forças pró-governo. Até agora, nem a União Européia, a ONU ou mesmo a Liga Árabe conseguiram algum progresso nas negociações para evitar esse verdadeiro banho de sangue. Desarmada, a população civil luta como pode e conta com um pequeno apoio de militares que deserdaram das fileiras oficiais cansados de atirarem contra seus próprios irmãos. Mas com o veto sino-russo, o governo de Washington nada pode fazer. Não há atendimento a feridos, e até mesmo postos de saúde improvisados são atacados pelos soldados pró-governo. Enfim, o povo sírio, de secular tradição pacifista, uma história singular, está de joelhos sendo massacrados silenciosamente por um tirano, um déspota sanguinário que não receia, para proteger-se e defender seu governo, em aniquilar seu próprio povo. Bashar Al-Assad está cometendo violações e crimes contra a humanidade, contra populações civis indefesas e o mundo nada faz para deter este monstro.